segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Revelação

Os pelos de Sophie se levantam num arrepio ao ver aquelas palavras ali paradas, iluminando toda a casa a espera de serem lidas e compreendidas. Esfregam-se os pequenos olhos castanhos e então, depois de focados começa a tentativa de entendimento. Sentada em sua cadeira de balanço, Sophie vasculha a mente tentando desenhar um significado que de sentido aquelas palavras. Perdida em pensamentos, não nota uma pequena movimentação. Pouco a pouco as palavras vão se desfazendo, como areia ao receber o afago carinhoso da brisa noturna. As pequenas partículas deslizam suavemente ao encontro da Mensageira, que se fecha novamente. Uma lembrança desperta Sophie de seu mundo de pensamentos. Lembra-se do dia em que ao voltar para casa, resolveu convidar a luminária para um passeio na floresta que cerca sua casa, que se anima e salta do arco, pousando suavemente na altura dos ombros da garota. A floresta que cerca a sua casa é repleta de árvores cujo tronco não se consegue abraçar e de altura que fazem com que sua copa mais pareça um rebanho de ovelhas, que pastam milagrosamente de ponta cabeça. Ia caminhando, com a luminária ao lado, flutuando sutilmente e falando incessantemente, esquecendo-se do fato de que a luminária responder não o pode, isso não era problema já que o seu brilho aumentava e diminuía conforme afirmava ou negava, alegrava ou entristecia. Dois pequenos monólogos, cada um ao seu jeito. Durante a caminhada, Sophie pode notar que algumas ovelhas devem ter fugido do rebanho, pois ali se encontrava uma pequena clareira, aonde o luar vinha tocar a grama, que se mexia lentamente com a brisa. Apertou o passo até o local e chegando lá viu que havia uma pessoa, sentada sobre as pernas e a segurar algo que aos olhos de Sophie, não pode reconhecer. O movimentar do ar trouxe aos ouvidos o murmúrio da pequena. Vagarosamente, como se estivesse a pisar em algodão, Sophie se aproximou e deixou-se encostar-se a uma das árvores. Não queria assustar a menina, sabendo disso a luminária chegou próxima de se apagar e então se aconchegou ao colo, os murmúrios agora eram mais audíveis e Sophie conseguiu entender algumas palavras, das quais não poderia se recordar agora, o esforço para retomar todo o acontecimento já exigia demais. Ali, a ouvir os murmúrios que lhe soavam aos ouvidos como uma calma canção, não conseguiu vencer a batalha que não tem estopim, não tem alarde e nem aviso, assim, rendeu-se ao sono. Acordou de supetão, igual a quando temos aqueles sonhos em que estamos caindo, quase jogando a pobre luminária ao longe. Notou não ouvir mais a música que embalara seu sono e correu a clareira, pasmou, pois ali não havia mais clareira. A luminária voou até onde a menina estava e se acendeu como pode e ao chegar ao seu encontro, Sophie viu no chão um pequeno pedaço de papel, azul como o céu contendo a seguinte frase “eu tenho fome de amor”. Um sorriso brota do rosto da pequenina, sim a pequena fada (como assim agora chamava a pequena criatura) havia escrito no ar sobre a menina da floresta, que Sophie apelidou de Menina Azul. O motivo pelo qual a Mensageira a fez lembrar-se da Menina, nunca foi revelado e nem se importou, já que a lembrança havia deixado Sophie feliz o suficiente para deitar e dormir tranquilamente.

Um comentário:

  1. Se surpreendeu ao acordar e ver uma carta detalhada e bonita sem dizer seu nome,mais dizendo claramente,ela.
    Abriu sorriso no rosto,guardou e aguardou mais carta,e agradeceu de modo simples, porém especialmente.

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