quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Viagem.

Há sempre um momento na vida, em que o suportável já não pode mais assim ser chamado e com isso acabamos por nos entregar. Assim estavam às nuvens, que derramavam suas lágrimas com torrente força e de dentro do vagão, Sophie observava com ternura as gotas que dançavam nos vidros ao ritmo veloz conduzido pela locomotiva a caminho da sexta estação.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Navy

Podia-se ouvir o chacoalhar das folhas durante aquela noite tão serena, Sophie dormia embalada em sonhos de outras primaveras, tão envolvida que nem se deu conta do que acontecia no andar debaixo. A Mensageira começara a brilhar, o seu laço mais uma vez se levantava no ar e como uma mão que oferece apoio, tirou de lá a pequena criatura cintilante. Essa, por sua vez, voou por todo o cômodo passando pela mobília como olhos saudosistas ao regressar a casa após uma longa viagem. A pequena fada sobe até o quarto onde se encontra Sophie e lá fica a observar, como se estivesse a zelar pelo sono da menina. Quando a aura púrpura encontra os pequenos olhos adormecidos, Sophie desperta, não se assusta, nem acha estranho. É como se fossem conhecidas de longa data e ajeitando-se na cama, Sophie cumprimenta a pequena criatura como assim fazem as pessoas aos primeiro encontros. Ela voa até perto do rosto da menina, o calor que toca a pele é como o carinho sutil daquele alguém que tanto desejamos. Ao ouvido chegam as palavras, uma voz aconchegante, delicada, doce e envolvente, exatamente como a menina imaginara antes. A voz se desprende trazendo as palavras. Oi, eu sou Navy. Sophie não se contendo as investidas por parte de sua inocente curiosidade, pergunta a cerca da Menina Azul, que outrora havia escrito no ar sobre a mesma. Navy chegou-se ao ombro de Sophie, como papagaios que acompanham fielmente seus piratas e assim começou a narrar. No lado de fora, pequenas gotas desciam do céu como pára-quedistas em formação, todas juntas e uniformes, enchendo os ouvidos da noite com o seu som reverberante. A luminária se deliciava enquanto pequenos rios se formavam em suas bordas, contornando aqui e ali e depois seguindo seu caminho até o chão. Dentro da casa Navy contava alegremente a cerca da Menina Azul, como Sophie a chamava.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Revelação

Os pelos de Sophie se levantam num arrepio ao ver aquelas palavras ali paradas, iluminando toda a casa a espera de serem lidas e compreendidas. Esfregam-se os pequenos olhos castanhos e então, depois de focados começa a tentativa de entendimento. Sentada em sua cadeira de balanço, Sophie vasculha a mente tentando desenhar um significado que de sentido aquelas palavras. Perdida em pensamentos, não nota uma pequena movimentação. Pouco a pouco as palavras vão se desfazendo, como areia ao receber o afago carinhoso da brisa noturna. As pequenas partículas deslizam suavemente ao encontro da Mensageira, que se fecha novamente. Uma lembrança desperta Sophie de seu mundo de pensamentos. Lembra-se do dia em que ao voltar para casa, resolveu convidar a luminária para um passeio na floresta que cerca sua casa, que se anima e salta do arco, pousando suavemente na altura dos ombros da garota. A floresta que cerca a sua casa é repleta de árvores cujo tronco não se consegue abraçar e de altura que fazem com que sua copa mais pareça um rebanho de ovelhas, que pastam milagrosamente de ponta cabeça. Ia caminhando, com a luminária ao lado, flutuando sutilmente e falando incessantemente, esquecendo-se do fato de que a luminária responder não o pode, isso não era problema já que o seu brilho aumentava e diminuía conforme afirmava ou negava, alegrava ou entristecia. Dois pequenos monólogos, cada um ao seu jeito. Durante a caminhada, Sophie pode notar que algumas ovelhas devem ter fugido do rebanho, pois ali se encontrava uma pequena clareira, aonde o luar vinha tocar a grama, que se mexia lentamente com a brisa. Apertou o passo até o local e chegando lá viu que havia uma pessoa, sentada sobre as pernas e a segurar algo que aos olhos de Sophie, não pode reconhecer. O movimentar do ar trouxe aos ouvidos o murmúrio da pequena. Vagarosamente, como se estivesse a pisar em algodão, Sophie se aproximou e deixou-se encostar-se a uma das árvores. Não queria assustar a menina, sabendo disso a luminária chegou próxima de se apagar e então se aconchegou ao colo, os murmúrios agora eram mais audíveis e Sophie conseguiu entender algumas palavras, das quais não poderia se recordar agora, o esforço para retomar todo o acontecimento já exigia demais. Ali, a ouvir os murmúrios que lhe soavam aos ouvidos como uma calma canção, não conseguiu vencer a batalha que não tem estopim, não tem alarde e nem aviso, assim, rendeu-se ao sono. Acordou de supetão, igual a quando temos aqueles sonhos em que estamos caindo, quase jogando a pobre luminária ao longe. Notou não ouvir mais a música que embalara seu sono e correu a clareira, pasmou, pois ali não havia mais clareira. A luminária voou até onde a menina estava e se acendeu como pode e ao chegar ao seu encontro, Sophie viu no chão um pequeno pedaço de papel, azul como o céu contendo a seguinte frase “eu tenho fome de amor”. Um sorriso brota do rosto da pequenina, sim a pequena fada (como assim agora chamava a pequena criatura) havia escrito no ar sobre a menina da floresta, que Sophie apelidou de Menina Azul. O motivo pelo qual a Mensageira a fez lembrar-se da Menina, nunca foi revelado e nem se importou, já que a lembrança havia deixado Sophie feliz o suficiente para deitar e dormir tranquilamente.

domingo, 25 de outubro de 2009

A sexta estação.

A velha engrenagem trabalha continuamente, para lá e para cá. Ora puxando, ora trançando com uma musicalidade dançante, que não deixa parado o pequeno novelo. Quando o mesmo descansa, dá-se por conta quão belo o resultando de sua dança foi. Deitado a espera de Sophie, que vem vindo depressa pelo arco de entrada e acena para a luminária que responde carinhosamente com um doce balançar. Ela traz em suas mãos pequenas flores de Miosótis que com delicadeza e maestria formam uma pequenina bolsa. Sobre a mesa ela o procura, encontrando-o sorrindo e sem pensar duas vezes, forma um laço para servir de bocal para sua (que ela virá a chamar posteriormente) Mensageira Mascarada. O nome se deve ao fato de que terminada a obra, a pequena garota vê o laço aos poucos se dobrar no ar, soltando-se aos poucos e retirando de lá uma pequena criatura cintilante, de brilho púrpura e aparência de um dente-de-leão, porém, com diminutas asas formando dois pares. A pequena criatura voa na direção na garota e explode ao toque dos pequeninos dedos curiosos. Sophie maravilhada com o acontecimento, demora a notar que palavras se formaram no ar com a explosão, que eram: Eu tenho fome...