terça-feira, 2 de março de 2010

Mundo Paralelo

No mundo paralelo, não há a pequena Sophie, nem Navy e nem a Sexta Estação. É um mundo real, com pessoas reais, lugares reais e muita fantasia. Uma delas começa com uma garota de pele de porcelana e cabelos escarlates, sentada quieta, concentrada. A pintura sutil no rosto a deixa com olhos de lince, fortes e penetrantes. A sua frente uma cortina a separa de vozes, confusas e embaralhadas, nada ouve a menina escarlate, nada além da sua respiração ordenada e bem treinada. O ar parece amar aqueles pulmões, pois a cada respirada é como se uma maré de sentimentos a completasse. As cortinas lentamente se abrem, desvendando um grande palco, porém, engolido pela escuridão. Apenas um tímido ponto de luz se sobressai dentre os ternos braços negros que a tudo ali encobre. É para a solitária luz que a menina de cabelos escarlate corre, seus pais mais pareciam deslizar devida a tamanha leveza com que se movimentava. Num piscar de olhos ela simplesmente desaparece, se rendendo aos apelos daquele negro abraço, mas os mesmos logo a perdem para a não mais solitária luz, ninguém havia notado ali a presença de um tímido trapézio, que agora dava apoio as delicadas mãos da menina escarlate. De olhar firme e determinado a menina voa sutil e bela como um cisne, cada parte, cada músculo do seu corpo parecia ter vida própria. Cada movimento executado resultava numa metamorfose de movimentos e contorções. Aos olhos de lince, tudo se movimentava rapidamente, tudo, exceto o ar. Este parecia perdidamente apaixonado, não se cansava nunca de acariciar a bela enquanto voava por ele. Sua presença a jovem notava a cada momento, sentia a linda valsa que seus pulmões dançavam com ele, sentia a revigorante força que ambos mandavam para o seu corpo, sempre no momento certo. Jogado nos braços da dama negra, pequenos olhos castanhos observavam junto a cortina a apresentação. Para eles era como se as leis da física não existissem, pois tudo se movimentava lentamente. Podia-se ver nitidamente os cabelos balançando ao ritmo intenso do corpo, a maestria com que os pequenos dedos se pressionavam e alteravam de lugares ao longo da transparente barra do trapézio. Junto da escuridão aqueles olhos observavam e junto dela eles se foram quando as incessantes palmas começaram. 45 longos segundos foram precisos para que o público se satisfizesse, entre eles, a jovem ia se despedindo agradecida. Como se o mundo tivesse girado ao contrário, novamente encontramos a jovem escarlate sentada, agora eufórica e satisfeita com o resultado de sua apresentação. Quando se acalma, nota na extremidade do banco uma pequena presença, um pequeno rádio a encarava, cantando sutilmente uma bela música em voz baixa. Parecia que nada existia a sua volta, tanto que não pode notar a menina se aproximando para ouvir melhor a canção que dali saía. E nem poderia ter notado, uma vez que quem cantava era Ray.

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